Este ano eu completo 30 invernos (não são primaveras, pois nasci em julho). Os que já passaram por essa fase sabem que ela vem recheada de mudanças, tanto físicas (já me chamam de Tia ou Senhora na rua!!!), como comportamentais, e com isso vêm os questionamentos.

Após a miscelânea de emoções vividas nos últimos anos, resolvi tirar um tempo para mim. Quero vivenciar situações imprevistas e redescobrir a Flávia, que por vezes vinha se escorando em personagens circunstanciais.

Obtive a aprovação do meu pedido de licença sem vencimentos do trabalho, por um período de um ano. Só faltava isso para começar o meu planejamento de transformar minhas economias em passagens, albergues, museus, paisagens, espiritualidade, comidas, encontros e desencontros.

Dois mil e oito para mim vai ser o ano da cigarra! – Isso não é horóscopo Chinês, Maia ou Checheno; é o resgate da Fábula de La Fontaine (mais conhecida como Fábula da cigarra e da formiga), mas com uma inversão de sua moral: sim, paremos para cantar e apreciar a primavera, e desfrutemos o ócio!!!!!

Meu caminho

1 de setembro de 2008

Bélgica

De Amsterdam segui para a Bélgica. Esse era um destino muito esperado, desde Portugal, pois iria conhecer minha prima Sofia, filha dos primos Vitor e Gena. Considerando o caráter do resto da familia (seus pais, tios e primos), tinha certeza que essa visita prometia!

Não preciso dizer que as expectativas foram mais que superadas. Sofia e seu marido, Alan, foram excelentes companhias e anfitriões. Logo quando cheguei eles já me levaram para conhecer o Atonium, um monumento de 102 metros, construído pela Bélgica para a EXPO 58. Ele é formado por 9 esferas de aço, conectadas entre si, representando um átomo de ferro ampliado 165 milhões de vezes. Dentro de algumas dessas esferas há exposições, porém, por ser de noite, só conheci o monumento por fora, mas fui compensada pela linda iluminação. No dia seguinte me levaram para conhecer o centro de Bruxelas. Adorei o Bairro Sablon, a parte histórica mais preservada da cidade, cheia de cafés, restaurantes, chocolaterias, ateliers, lojinhas e antiquários. Também imperdível é a Grot Market, uma grande praça circundada por prédios do séc XV a XVII, nos estilos gótico e barroco.

O tempo que fiquei na Bélgica foi ótimo para descansar, o que veio em boa hora, pois desde o Vale do Loire vinha sentindo uma inflamação no calcanhar direito, a qual estava ficando cada vez mais aguda. Aproveitei também para fazer coisas que adoro, mas que ficaram mais difíceis de desfrutar quando iniciei essa vida de mochileira. Fui acomodada em um quarto só para mim, onde me permiti dormir até a hora que o corpo cansava de ficar deitado. Bruxelas, com seu tempo tipicamente chuvoso, potencializou essa preguiça. Também assisti a filmes, escutei músicas, comi muito bem e cozinhei coisas gostosas (menu 1: strognoff com arroz, batata palha e salada; menu 2: carneiro com molho de iogurte, arroz com lentilhas e tabule). Meus anfitriões adoraram e, sendo muitos corteses, retribuíram na mesma moeda: uma maravilhosa receita portuguesa de peixe com legumes! O gostoso era que cada uma dessas refeições servia de pretexto para abrir uma garrafa de vinho e, ao som de uma boa música, como Pink Martini e Puppini Sisters, ficávamos horas jogando conversa fora, até o momento de voltar para a cama.

Bruxelas também marcou por seus chocolates e cervejas. Mesmo sendo quase nada chocólatra na minha vida pregressa, não passei ilesa a essas delícias encontradas no país (os chocolates belgas, junto com os suíços, estão entre os melhores do mundo). O agravante é que, com tantas marcas famosas e coleções diferentes, queria provar de tudo. No final de dois dias já estava entregue, viciada em um pedacinho de chocolate após cada refeição. Mantive a reincidência nesses prazeres e a pena foi o acréscimo de 2 quilos no meu peso!

Se Bruxelas foi a capital dos chocolates, Bruges foi a da cerveja, também cúmplice no complô que me fizeram mais roliça. Passei 2 dias nessa cidade ao norte da Bélgica, na região de Flandes (onde se fala flamengo), e lá aproveitei para fazer a degustação desse outro orgulho nacional. A Bélgica tem grande tradição na fabricação de cervejas, sendo que, em um território de apenas 30.500 km2 de extensão, são produzidas em torno de 450 variedades, algumas delas artesanais e de excelente qualidade (aquela que é considerada número 1 do mundo, a Westvleteren 12, é produzida em uma abadia belga).

Mas não fui à Bruges atraída pela cerveja, mas por sua fama de ser “a Veneza do Norte”. Ambas as cidades são românticas e entrecortadas por diversos canais, mas alguns nativos chegam a dizer que a cidade belga é ainda mais bonita que a italiana. Isso vou ter que comprovar dentro dos próximos meses, todavia posso afirmar que Bruges é, indiscutivelmente, bela e foi a cidade medieval mais preservada que visitei até o momento. Tamanha beleza já foi descoberta pelo turismo, pois naqueles dias a cidade estava lotada. Muitos turistas que vão de Paris a Amsterdam param na Bélgica por alguns dias e, como Bruxelas não tem tantas atrações, concentram-se em Bruges.

No trem para Bruges conheci duas brasileiras, Maira e Сris, que se tornaram ótimas companheiras de viagem e com as quais mantive contato até Paris, onde nos reunimos para mais encontros etílicos. Porém o batismo da trupe foi mesmo em Bruges, quando saímos eletrizadas de um concerto conduzido por um excelente quarteto polonês, chamado Bester Quartet. Perto da praça principal encontramos uma região de Pubs e lá avistamos uma dupla de italianos, que eu já havia conhecido brevemente, e que nos convidou para sentar à mesa com eles. Foi ali que participamos de diversas rodadas de cervejas belgas, de várias marcas, muitas delas gentilmente patrocinadas por nossos amigos europeus. Para não fazer desfeita, aceitamos todas de bom grado… e que grado! O detalhe é que o grau alcóolico dessas cervejas está em torno de 4 a 6 graus e as canecas padrão são de 0,5 litro. Resultado: ficamos todas de pileque e quase imprestáveis na manhã do dia seguinte!

Essa foi a primeira ressaca em toda viagem e que me deixou com restrição à cerveja por um tempo. Restrição superada dias depois, juntamente com Maira e Cris, em outra mesa de bar no Quartier Latin, em Paris. Dessa vez, sem efeitos colaterais. Desconfiei, então, que o corpo vai se acostumando com essas cervejas mais fortes e não reage mais da mesma forma. Tal hipótese pôde ser comprovada nos destinos subsequentes (Rússia, República Checa e Polônia), quando o corpo restistiu bravamente às altas concentrações de cerveja e, ainda, salsichões. Ressaca não tive mais, porém passei a ter que abrir o primeiro botão da calça ao me sentar!!! E o colesterol? Nem pensei em medir.



16 comentários:

Anônimo disse...

É diabo,por esse andar vai ficar uma " bola " .É muito dificil resistir à novidade,ao que é bom,mas é preciso ,caso contrário nem a reconheceremos,no final da "volta ao Mundo " .Mas penso que é mais conversa,do que outra coisa,pois pelas fotos está magnifica a fotógrafa e as fotos,que dão uma imagem perfeita dos locais e das gentes .Continuação de " boas descobertas " .Beijinhos

Dea Conti disse...

Concordo com os primos portugueses: se o andar da carruagem prosseguir desse jeito, não reconhecerei minha filhota quando ela voltar. Ainda bem que depois tem a Ásia, cuja gastronomia costuma ser menos apetitosa aos nossos costumes. E, continuando com a concordância, pode ser olhar de mãe, mas fazia tempo que não a via tão bonita, tão serena e tão mulher. Benditas cervejas, entre outras coisas...

beijocas mil

cigarra disse...

Na foto não está tão mal, pois a coisa fica feia quando estou sentada.kkkkkk
Mas não se preocupem, primos e mama, já mudei meus hábitos. Fugi para uma cidadezinha nas montanhas tchecas e faço de meu hotel um SPA. Nos últimos dias tenho me exercitado e comido saladas e, de vez em quando, um peixinho. Salsichas e cervejas estão proibidas!
Mas de qualquer forma, tem mais outro rainbow no meu caminho (Hungria) e estou seriamente pensando em pousar lá. Aí, é infalível: quase uma vida de Sadú.
Ah, independete do fator corujisse, obrigada pelos elogios.

PS: Galera, de agora em diante vou passar a responder os comentários aqui nesse espaço, assim fica mais interativo e dinâmico
Beijão a todos
cigarrita

Anônimo disse...

A Belgica como toda a Europa é muito linda; com muita história, cultura, gente bonita, etc. Pelo visto, voce aproveitou bastante com a prima Sofia e o Alan. Beijos, Betão

Anônimo disse...

Flavinha, estou amando seus posts e relatos. As vezes queria saber mais um pouco sobre o tema "dindin": sai muito cara uma viagem como esta que está fazendo? Adoraria poder sonhar que um dia terei uma oportunidade semelhante à sua. Por enquanto, torço por você e seu sucesso.

bj
Li

cigarra disse...

Olá Li,
Estou em um esquema econômico, mas não deixando de curtir nada. Se vc tem o espírito para fazer uma viagem nesses moldes, não precisa tanta grana assim.
Mande uma mensagem para meu email que te passo mais ou menos umas orientações de custos e dicas de barbadas.
mfnunes@hotmail.com
bjs Flá

cigarra disse...

Papis,
foi ótimo sim. Vc tem conhecer os primos e o país. Se bem que eles me prometeram que depois da China, o destino será o Brasil.
Tomara! Vamos socar comida neles!
Ah, aproveitando aqui para cometar sobre seu post colocado ontem sobre o relato de Amsterdam: o barco do palmeiras na parada gay foi uma brincadeira, é claro. Foi para provocar a Laura. Era um barco de Roterdã. Mas pelo que eu conheço, a torcida mais arco-íris do Brasil é a do São Paulo mesmo.
Já maconheiros, todos são. Aliás, parece que o mundo todo é. hehe
beijão
Fafá

cigarra disse...

ah,
aliás, segundo a comunidade G, o mundo todo é gay, e quem não está provando é porque ainda não se descobriu!
... é uma hipótese!

Anônimo disse...

Que delícia esta viagem! Acabo de entrar na caixinha número 7579 de meus dias e fiquei muito feliz com este passeio. Permitiu-me, mesmo estando ainda na caixinha, sentir-me além de limites impostos por paredes concretas longe até da luz do sol. Obrigada

Anônimo disse...

Depois de "matar" Max,um pouquinho só,eu é que estou morrendo de inveja.Da próxima vez que voce inventar uma empreitada dessas,irei contigo até o fim. Beijos da maqaqa

Anônimo disse...

Não adianta vir com guaraná pra mim é CHOCOLATE que eu quero comer! Que m a r a v i l h a de chocolatessssss! Amei de paixão!

cigarra disse...

Tia Lígia, obrigada vc, sempre amosa e também fonte inspiradora de muita coisa que acredito!

Vóóóóó, vamos para a Asia então, assim vc ampliará o seu já vasto Menu do restaurante Piraporense. Ai, tasca pimenta no véio. Topas?

Tia Aninha, se a viagem não fosse de um ano, te levaria uma caixa de chocolates Neuhaus! Como só volto em março de 2009, achei que eles pudessem derreter no caminho...
beijão a toda família Conti

Ana Conti disse...

ei fafa, ouvi dizer que vc apostou que a aninha falaria dos chocolates e eu das cervejas. oras. quero ver se vc encontra cachaça em qualquer lugar do mundo melhor que a nossa mineira trem.

hehehehehehehehehe

mas seria bem legal sim provar umas outras marcas de cervejas que não fossem as nossas já conhecidas.
zilhões de beijos.

Sofia C. disse...

Olá Flávita,

Desculpa comentar só agora, sabes, estou em Sevilha a estudar espanhol e estou menos tempo no computador. Obrigada pelas tuas palavras. Nós adoramos receber-te e partilhar parte do teu caminho. Quanto ao Strogonoff, a prova de que gostamos muito é que repetimos a receita para aí três dias depois de ires embora, juro! É muito bom ;-) Aliás fiz também o caviar de beringelas que já não me lembro como chamavas (o nome libanês).
Quanto aos quilinhos não notei nada. Aliás tens caminhado tanto que tenho a certeza de que já perdeste. É verdade, como está o teu pé, conseguiste encontrar novas sandálias? Espero que sim, ainda vais andar muito Flávita.
Vejo que estás em Berlim. Acho que é uma cidade de que deves gostar.
Olha, eu estou em Sevilha e a gostar. Não está tanto calor como no Verão, embora esteja quente (28-31°C). Sinto-me uma priveligiada com um Verão tão longo. A mistura moura na arquitectura e cultura andaluzes agrada-me muito. Amanhã vou descobrir os banhos árabes. Ontem fui ao Alcazar, que maravilha...Prima, cuida bem de ti e regressa ao poiso bruxelense quando quiseres. Beijos, Sofia

cigarra disse...

Olá Prima!
Valeu pela visitinha aqui. Imagino como está sua vida em terreno Andaluz, intensa. Desfruta essa terra, que é maravilhosa. E tome umas sangrias por mim.
Beijão e suuuudades
Fla

cigarra disse...

Ah Tia Ana,
cachaça é mesmo no Brasil, mas como estou em uma vaigem que a proposta é viver o presente e experimentar, não vou ficar nostálgica da Serra Limpa (ótima caninha paraibana). Aliás, caipirinha se acha aos montes aqui, mas só de Pitu e 51, tô fora, prefiro as cervejas!
beijos
farofa