Este ano eu completo 30 invernos (não são primaveras, pois nasci em julho). Os que já passaram por essa fase sabem que ela vem recheada de mudanças, tanto físicas (já me chamam de Tia ou Senhora na rua!!!), como comportamentais, e com isso vêm os questionamentos.

Após a miscelânea de emoções vividas nos últimos anos, resolvi tirar um tempo para mim. Quero vivenciar situações imprevistas e redescobrir a Flávia, que por vezes vinha se escorando em personagens circunstanciais.

Obtive a aprovação do meu pedido de licença sem vencimentos do trabalho, por um período de um ano. Só faltava isso para começar o meu planejamento de transformar minhas economias em passagens, albergues, museus, paisagens, espiritualidade, comidas, encontros e desencontros.

Dois mil e oito para mim vai ser o ano da cigarra! – Isso não é horóscopo Chinês, Maia ou Checheno; é o resgate da Fábula de La Fontaine (mais conhecida como Fábula da cigarra e da formiga), mas com uma inversão de sua moral: sim, paremos para cantar e apreciar a primavera, e desfrutemos o ócio!!!!!

Meu caminho

9 de agosto de 2008

A cidade luz

No dia 24 de julho parti de Tours em direção à Paris. Era excitante pensar que, enfim, visitaria essa cidade tão simbólica que foi palco de fatos que influenciaram no rumo da história da humanidade e que há tempos é vanguarda de tendências artísticas e culturais no mundo ocidental.

Havia também outros motivos que me despertavam felicidade por chegar a esta cidade: Paris seria particularmente especial pela oportunidade de encontrar e reencontrar pessoas queridas. Lá fiquei hospedada na casa de Priscila, uma amiga brasileira, que vive com seu marido e filho, Cyrille e Emílio. Amei revê-los e ficar em um ambiente pessoal e cheio de afeto. Também tive o imenso prazer de conhecer o ramo da família portuguesa que vive na França: meus primos Rui, Salomé, Marco e, principalmente, Gilles, o melhor e mais divertido guia da cidade!

Estar em ambientes familiares, após dias de impessoalidade em albergues, ajudou-me a recarregar o ânimo e a energia para as seguintes paradas. Um exemplo desse aconchego foi o dia que meus anfitriões me apresentaram uma seleção de músicas francesas e aí fiquei toda a tarde dentro de casa, apreciando-as. Quando se está quase todos os dias em constante movimento, explorando novas cidades e lugares, nada mais gostoso que um momento de puro ócio!

Ao todo fiquei cinco dias em Paris, o que é muito pouco para conhecer a cidade. Entretanto, nesse período percorri alguns locais e foi suficiente para ficar fascinada. Paris tem uma beleza que se vê em todo canto, em qualquer esquina. É uma metrópole cosmopolita que conserva tradições e peculiaridades. Tem um conjunto arquitetônico muito equilibrado e preservado, e apresenta construções de vários séculos, desde o período medieval, como a Catedral de Notre-Dame, até algumas mais contemporâneas, como as pirâmides do Louvre ou o Centro Pompidou. Além disso, mantém áreas verdes, como os Jardins de Luxemburgo e de Tuileries, que servem de refúgio para aqueles que estão saturados de tanto concreto.

Por tudo isso, muitos consideram essa a capital mais bela do mundo. Eu não tenho aqui a pretensão de fazer este tipo ranqueamento simplista, mas a experiência que tive por lá corrobora a opinião bastante difundida de que Paris é, realmente, uma cidade muito especial!

Seguindo as dicas de um guia de viagem, comecei minha expedição à cidade pelas margens do Rio Sena, iniciando na altura da Catedral de Notre-Dame até a Assembléia Nacional (Palais Bourbon), passando por vários pontos interessantes, como os museus Louvre e Orsey, e o Palácio dos Inválidos (Les Invalides), além de belas pontes e lindos prédios, conhecidos e anônimos. O percurso é maravilhoso e tem, como toque especial, a presença de diversas bancas com livros e revistas usados (os famosos bouquinistes do Sena), que oscilam entre a venda de relíquias e cacarecos. Neste dia, vivi uma cena emocionante quando, ao virar uma esquina, com surpresa me deparei com a imponente Torre Eiffel ao fundo. Apesar desse não ser o monumento mais legal de Paris, é indiscutivelmente um dos seus principais símbolos.

Nos outros dias estava com o Gilles de carro, o que nos deu uma melhor autonomia para explorar áreas mais distantes entre si. Mesmo assim, não deixamos de exigir de nossos cansados pés, que voltavam à atividade sempre que, milagrosamente, encontrávamos uma vaga de estacionamento. (É quase impossível estacionar o carro no centro de Paris; isso e outros problemas relacionados à grande quantidade de veículos na cidade fizeram com que o governo local investisse no sistema Velib de aluguel de bicicletas. Foi um sucesso de público!). Visitamos vários locais como a Avenida Champs Elysées, o Palácio dos Inválidos, Praça da Madeleine, o Centro Pompidou, Jardins de Tuileries, o Petit e Grand Palais, a Ópera Nacional, a rua Pigale, o Montmatre, Sacre Coeur.... ufa! Esses são apenas alguns dos nomes que me lembro agora.

Com Gilles observei o lado A de Paris, do luxo e requinte (da ostentação???) das famosas lojas de grife, das joalherias e dos hotéis-palácios com diárias que ultrapassam a terceira casa decimal em euros. Por outro lado, também passamos pelo lado B da cidade, nos cantos mais populares, repletos de estrangeiros (latinos, árabes, africanos, asiáticos...) e de franco-africanos e franco-asiáticos (originários das antigas colônias francesas). Nesse contexto, foi fantástico ver os bailes que ocorrem ao ar livre à beira do Rio Sena, todos os domingos, ao som de música tradicional francesa ou latina.

No último dia tive uma despedida da cidade em grande estilo, acompanhada de meus anfitriões. À tarde fomos ao Parque Luxemburgo para um concerto gratuito do Vieux Farka Touré (saboreie um pouco aí embaixo), filho de Ali Farka, um ícone da música africana, original de Mali. Ótimo show e dancei muito! De lá saímos para tomar cerveja no Quartier Latin, bairro boêmio frequentado por estudantes e intelectuais, próximo à Universidade Sorbonne. Fizemos uma degustação de cervejas européias e, para amenizar o pileque, eles me levaram a um restaurante muito especial (aqui a maior parte das cervejas têm grau alcoólico mais elevado que as do tipo Pilsen, que estamos acostumados a tomar).



A cozinha francesa é conhecida mundialmente por seu requinte, ousadia e ótimas combinações. Apesar de ter provado alguns deliciosos exemplos, a melhor experiência culinária que tive na França foi em um restaurante etíope, esse apresentado por Pri e Cyrillle. Talvez até os pratos franceses degustados fossem mais saborosos, mas o conceito etíope foi marcante. A comida em si é simples e farta: basicamente carne, arroz, lentilha, legumes, todos temperados com muitas especiarias. O diferencial é que lá, a receita escolhida por cada um não vem em porções separadas, mas em uma única travessa, separadas espacialmente, como se fosse uma pizza de mais de um sabor. Entre a comida e a travessa há uma fina massa, similar a uma grande panqueca. A parte mais interessante é que para manipular a comida não se usa talheres, mas sim “folhas” sobressalentes de panquecas que acompanham o prato. Ou seja, ali compartilhamos o nosso alimento e colocamos a mão na massa! Contanto que todos façam a higiene apropriada, é um jeito novo e muito gostoso de comer. Deu até uma sensação de Liberdade, Igualdade e Fraternidade!

Ainda regresso a Paris depois de uma volta por Holanda e Bélgica, pois lá pegarei meu avião para São Petersburgo. Já tenho combinado novos passeios com meu primo Gilles, entre eles um restaurante francês moderno e sofisticado. Segundo ele, é o melhor custo-benefício da cidade, além de ser seu grande orgulho. É que o tal restaurante foi apresentado por ele ao seu fooding club* e tem seguido na liderança a cada novo encontro do grupo. É preciso ver como ele se infla e o sorriso que sai de seus lábios quando fala de lá. Só estou imaginando quando ele ler esse post e minhas considerações sobre “a melhor experiência gastronômica na França”. Seu sangue nacionalista francês vai pulsar e vai fazer de tudo para que, sua preciosidade, continue no rol dos imbatíveis, mesmo fora dos limites de sua confraria.

(*Clube de degustação; um grupo de comilões onde cada um sugere um restaurante, que é visitado pelos participantes que dão notas relativas a vários quesitos: preços, sabor, ambientação, etc. Fica como vencedor – moral – aquele sócio que apresentar a melhor opção).



5 comentários:

Anônimo disse...

Uf,estamos cansados com esta passeata de hoje por Paris ,e pelos magnificos repastos .Mas é muito agradável " a cidade luz " !
Estamos em pulgas para conhecer esse restaurante do G,onde ele nunca nos levou,o malandro !!!
S chegou hoje e vem encantada pela ter conhecido Beijos

Teresa disse...

oba! comida é bom e eu gosto!! fiquei com inveja da super viagem flaviana e da vó ter ido pra portugal e do tércio ter ido pra mendonza e mas um monte de gente indo pra toda parte, tomei uma atitude, peguei um avião e passei 2semanas em buenos aires :-) o comentário do food club me fez lembrar do la clac, certamente o melhor restaurante de bs as seu camarada ia ter trabalho pra achar um que desbancasse esse por lá rs. e mais legal, comprei um cd dos fabulosos cadillacs e quando olhei na capa, tavam os malandros enchendo a cara de cerveja no la clac! boa comida e gente famosa, olha só que luxo! rs

saudades e se cuida!
t.

Prem Madhuri disse...

Sei bem por que gostou mais desse restaurante. Foi a ppossibilidade de comer com a mão sem ter alguém que te encha o saco.

Beijos.

Anônimo disse...

Quantas aventuras! Amei o vídeo do Vieux Farka Touré: grane idéia colocá-lo aqui.

Gil

Anônimo disse...

Menina adorei os seus comentarios de Paris! Foi otimo ter você por aqui! Até breve! Beijos, Pri (Cyrille e Emilio).