Este ano eu completo 30 invernos (não são primaveras, pois nasci em julho). Os que já passaram por essa fase sabem que ela vem recheada de mudanças, tanto físicas (já me chamam de Tia ou Senhora na rua!!!), como comportamentais, e com isso vêm os questionamentos.

Após a miscelânea de emoções vividas nos últimos anos, resolvi tirar um tempo para mim. Quero vivenciar situações imprevistas e redescobrir a Flávia, que por vezes vinha se escorando em personagens circunstanciais.

Obtive a aprovação do meu pedido de licença sem vencimentos do trabalho, por um período de um ano. Só faltava isso para começar o meu planejamento de transformar minhas economias em passagens, albergues, museus, paisagens, espiritualidade, comidas, encontros e desencontros.

Dois mil e oito para mim vai ser o ano da cigarra! – Isso não é horóscopo Chinês, Maia ou Checheno; é o resgate da Fábula de La Fontaine (mais conhecida como Fábula da cigarra e da formiga), mas com uma inversão de sua moral: sim, paremos para cantar e apreciar a primavera, e desfrutemos o ócio!!!!!

Meu caminho

25 de junho de 2008

Rainbow

Acabo de voltar de um evento chamado Rainbow, realizado na região montanhosa de Abelgas de Luna, no Parque Natural de Somiedo, Provincia de León y Castilla. Este é um encontro de pessoas que buscam compartilhar experiências relacionadas a espiritualidade, respeito e amor ao próximo, práticas comunitárias e sustentáveis, terapias alternativas, além de muitas expressões de arte. Os germes desse evento são os movimentos hippies da década de 70 e o primeiro Rainbow ocorreu em 1972, no Colorado, EUA. Desde então vem acontecendo em países em todo mundo, com encontros regionais, nacionais e internacionais, inclusive no Brasil.

De maneira geral, há muita mística envolvida no encontro, que se inicia e termina sempre em uma lua nova, sendo o primeiro dia de lua cheia o pico do evento, com a realização de uma grande festa e com muitos rituais de celebração à vida.

No encontro havia cerca de 400 pessoas, de diversos países e de todas as idades, sendo a maioria de jovens e ligadas ao movimento hippie.

Antes do início do evento, algumas estruturas básicas da vila são montadas, como barracões que servirão como cozinhas (de adultos e crianças), fossas secas para os banheiros e tendas em formato indígena americano, que servirão de abrigos, locais para realização de workshops, reuniões e encontros musicais. Ainda há um centro de cura, em local mais privativo, para serem encaminhadas as pessoas que por ventura adoecerem e que poderão receber diversos tratamentos como massagens, medicina chinesa, florais, reike, ervas medicinais, entre outros.

No Rainbow tudo é permitido, desde que haja respeito ao próximo. Entretanto, pede-se que não sejam levadas bebidas, carnes e drogas pesadas. Os trabalhos coletivos são voluntários e os mais comuns são relativos à cozinha e à coleta de lenha para as fogueiras e forno. São servidas duas refeições por dia (almoço e jantar), sempre com menus vegetarianos. Para iniciar cada refeição é organizada uma roda e, enquanto se espera pela chegada de todos, são cantadas músicas alegres e que falam da união da "família Rainbow", entre ondas de beijos e abraços que percorrem o círculo. No final da refeição reúne-se um grupo de músicos, elfos, duendes e bailarinos com bolhas de sabão, para passar o "chapéu mágico" onde é arrecadado dinheiro para comprar mais mantimentos. Contribui quem pode e com quanto pode.

Depois do almoço são anunciados workshops, por pessoas que, gratuitamente, se disponibilizam a dividir alguma habilidade. Há de tudo: florais, massagens, dança, canto, meditação, yoga, botânica, artesanato, capoeira, entre outros. Todos são livres para anunciar um evento, como também para participar. Há quem não queira, preferindo deitar na grama, bater um papo, treinar malabares ou tocar uma música. Aliás, a música é uma das expressões mais fortes do evento.

Depois do jantar, as fogueiras começam a ser acessas e a soar os tambores, violões, flautas, gaitas, saxofones, cítaras, acordeons e outros, mas o forte mesmo são os instrumentos de percussão. Há músicos excelentes e o coro é lindo! Os ritmos mais tocados foram flamenco, celta, reggae e mantras indianos. Esses encontros musicais acontecem em volta das fogueiras, ao ar livre ou na Shambala. Essa é uma grande tenda com um fogo central, onde são feitos chás para aquecer os cantantes e poetas. Ela costuma ficar lotada todas as noites, até o amanhecer.

A energia do Rainbow é muito boa. Estava só e na rodoviária havia um grupo grande de pessoas que já se sacavam umas às outras. O ônibus percorria uma estrada que corta lindos vales de montanhas, sendo embalado pelos violões e coro da galera, que a essa altura já estava socializada. Na parada final partimos para uma caminhada até o acampamento, sempre com o astral elevadíssimo. Essas foram as primeiras, de inúmeras, pessoas que conheci essa semana.

Confesso que no início do encontro me senti um pouco insegura, por medo de ser discriminada, já que não tenho dreadlocks (aproximadamente 90% tinham, entre homens e mulheres) ou um estilo de vida hippie. Porém isso não ocorreu, pois as pessoas, em geral, são muito amáveis e abertas a conhecer uns aos outros. Isso eu também sou.

Interagi com muita gente, de vários países, dei e recebi muito carinho, palavras amáveis, abraços, beijinhos, massagens, sendo esses toques sem carga sexual, mas contendo um forte sentimento de amor ao próximo.

Depois de 6 dias saí de lá com um grande aperto no coração, mas escutando um sininho interno que me dizia que já era hora de seguir viagem. Infelizmente, sei que dificilmente verei novamente a maioria dessas pessoas, mas guardarei essa experiência na memória e coração, sendo eternamente grata por ter trocado com elas. Sei que haverão outros encontros desses durante minha estadia e, se puder, vou fazerde tudo para ir.

4 comentários:

Anônimo disse...

Incrível essa sua aventura, Flávia. Deve ter sido incrível conhecer o local e toda essa gente diferente. Amor e energia positiva são sempre algo bem vindo a todos nós, seja no Brasil, espanha ou em qualquer lugar. Aprenda e ensine; viva e desfrute; se você foi como sempre és, tenho certeza que todos que conheceu te adoraram e sentiram essa tua energia que é maravilhosa.

Um beijo enorme

Anônimo disse...

Vai,minha pomba vai... Siga seu caminho. Que Deus lhe guarde E a traga de volta maqaqa

Prem Madhuri disse...

Sabe aquele papo de "vai procurar sua turma"? Então, acaba de conhecer a minha. Pesar graaaaaaande de eu não poder ter estado aí com essa família. Eu tenho um "q" no meu coração que diz que eu ainda vou viver em uma comunidade.
Saudades. Curte muito.
Te amo.

Anônimo disse...

Oi Flávia! Aqui é Fábio, amigo de Neto. Ele me passou o endereço do teu blog, agora eu sou mais um a acompanhar sua andança pelo mundo. Muito legal tuas fotos....... Fiquei fascinado com a beleza dos lugares! Parabéns!