Pontualmente como previsto nos bilhetes, subimos no trem às 14:10 em direção a Évora, na Região do Alentejo. Foram quase duas horas de viagem e, pasmem, não pisquei os olhos por um só minuto. Caso raro, pois os que me conhecem bem sabem que qualquer balanço dentro de algo motorizado tem para mim o efeito de uma canção de ninar, mas neste dia estava em alerta.
No caminho observei atentamente uma extensa planície rural, relativamente árida, com pequenas casas e simples trabalhadores do campo, em uma paisagem predominatemente de olivieras e áreas onde pastam cabras e ovelhas. Essa matriz era entrecortada por raras e pequenas vilas ou cidades. Ao pesquisar, descobri que a paisagem vista parece ser uma amostra representativa do Alentejo.
Essa é uma linda e tradicional região portuguesa, mas que atravessa problemas de concentração de terras, crescente processo de desertificação, envelhecimeno populacional e êxodo rural. Apesar de abranger quase um terço da extensão do país, é uma das regiões mais pobres de Portugal e abriga em torno de apenas 5% de sua população. Por outro lado, concentra importantes patrimônios históricos e naturais, além de ser conhecida por sua riqueza cultural e delícias gastronômicas. Évora é uma das suas principais cidades, com imenso potencial turístico.
O centro histórico da cidade é uma vila medieval fortificada, cercada por muralhas muito bem conservadas. Suas ruas são estreitas com calçamento de pedras e as casas são brancas com detalhes amarelos. Igrejas ou capelas são encontradas por todo lado, assim como estudantes, atraídos por sua tradicional Universidade, fundada no século XVI. Por tamanha semelhança, logo de início denominamos essa como a "Tiradentes portuguesa". Cheguei a me questionar se, por uma questão cronológica, não seria mais razoável atribuir à nossa mineiríssima Tiradentes o título de "Évora brasileira". Mas dúvidas nomenclaturais à parte, o relevante é que Dona Déa, fã incondicional das cidades históricas de Minas Gerais, quase caiu para trás ao chegar ali. A emoção foi tamanha, que ela declarou o desejo de largar tudo, abrir um restaurante local que servisse tutu-de-feijão e pão de queijo e, assim, enraizar-se. Apenas a lembrança do Velho Conti, na saudosa Salto de Pirapora, tocou o seu coração e fez com que a razão e o dever de devoção familiar preponderasse em seu juízo.
Apesar de muito turística, Évora possui um clima provinciano e encantou a mim também. Ali estava longe do arrasto dos enormes grupos de turistas estrangeiros em excursão e dos insistentes assédios de ambulantes, comuns no centro de Lisboa. E mais, fiquei feliz em ver uma distribuição etária um pouco mais equilibrada, devido à presença dos universitários. Contudo, dizem que essa cena se modifica com a chegada da alta temporada turística, que coincide com a evasão dos estudantes em período das férias e a invasão de ordas de europeus de cabeça branca, bochechas rosadas e pernas musculosas. Exceto a inconveniência do tempo chuvoso, estávamos definitivamente em um bom período para visitas.
Assim, celebrando o além Tejo, vivenciamos nossa primeira bebedeira em Portugal, acomodadas em uma mesinha de ferro coberta com porções de tremoço, chouriço, paio e pães, além de copos de cervejas e taças de vinho do Porto. Falamos muitas besteiras e soltamos deliciosas gargalhadas, às custas dos pacientes ouvidos do seu Manuel, dono do butiquim, segundo ele sua "passstelaria"! Inevitavelmente, tamanha orgia teve seu custo: limitou a minha tão esperada noitada de boemia às fronteiras dos edredons, às 20h30min, quando a tarde mal crepusculara!
Ouça a canção...
13 comentários:
Fiquei muito feliz com a criação desse blog...Parabéns pela iniciativa!
Vou te acompanhando viu linda
Super beijo
jags
Esse "Ai como eu gostaria de..." na fotografia vai ser eterno, não se preocupe! Bons cliques para você e estaremos acompanhando a sua evolução nessa arte.
Bjs
Flá, adorei as notícias doces e poéticas... Bem sua cara!!! Mantenha o ritmo!
PS: ei qdo é q vc estará mesmo pela França?
Flavinha cadê a fotinho do gajo de Évora? Fiquei curiosa, menina!
Ai, que viagem linda!. Amei seus textos, viu?
beijos, beijos, beijos
Queres casar comigo, dona moça cigarrita?
Muito legais as fotos, Flávia. Seus textos também estão ótimos. Felicidades pra ti, sempre.
Assim como o Flaviano, estou amando suas fotos, principalmente aquelas nas quais você focaliza as pessoas de Portugal (os adoráveis velhinhos, com suas perninhas curtas - a maioria!).
Quanto às histórias, só tenho a reclamar a demora entre uma e outra - embora compreenda perfeitamente o porquê dela.
beijocas, filhota querida
Flavinha
que legal seu blog, gostei muito dos seus textos e parabens pelas fotos.
Iremos te acompanhar sempre.
Beijos e boas viagens pelas terras portuguesas!!
Amiga,
adorei seus textos, as fotos são lindas, sensíveis, reais...isso nos faz viajar com você.
Grande beijo
Esse sr. Manuel é cara do sr. Wilson do Pimentinha!!!
Se a foto tivesse saído como esperado, ficaríamos sem as lindas palavras que anunciaram, lamentaram e imortaliraram a delicadeza do momento. Louvor ao amor por esse momento em sua perfeição. As coisas acontecem como devem ser. A gente aceita e faz poesia da vida, então!
Amo-te, amada.
Fla, até o fim do ano vc ser´qa a maelhor das fotógrafas.
Aposto todas minhas fichas nisto.
bjoswrbeplp
Desse jeito vais voltar com um best seller!!! hehehe
Quanto ao mal-sucedido furto de imagem (hehehe), é uma questão de tempo, vais ficar mestre logo logo!!!
Bjao Grandão!
Andreza e Marcus
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